Reparei que por aqui não tem cachorro largado na rua, nunca vi um andando sozinho por aí.
Hoje tinha um cara dormindo embaixo do banco da estação de trem.
Uma criança dentro do trem olhou pra mim de cabeça meio baixa, estendeu um copinho com uma etiqueta 'manger' ... envergonhada por pedir, pedindo sem falar, uma única palavra no copinho para executar um pedido à prova de estrangeiros, independente de língua.
Não é como se eu nunca tivesse visto, mas o contraste foi estranho.
No copinho poderia estar escrito 'MERDA', não faz diferença.
Na sala ao lado do meu escritório alguém toma café falando de política, escutei dizer que a França sofre com imigração 'eles continuam vindo para cá trazendo problemas... será que é tão difícil mantê-los fora daqui?', será mesmo que por aqui não se aprende na escola de onde é que veio grande parte da grandeza da Europa?!
NÃO É A FOME QUE MATA
É O TEMPO DA FOME QUE NOS VAI MATANDO
É O SILÊNCIO NA DESCULPA, DOS OUTROS
É A PELE DISTANTE, DOS OUTROS
A OUTRA VIDA QUE NÃO NOS PERTENCE
NÃO É A FOME QUE (NOS) MATA
À DISTÂNCIA DO SOFRIMENTO, DOS OUTROS
SÃO OS OUTROS, AQUELES QUE CARREGAM A FOME
A NECESSIDADE, DOS OUTROS
AQUELES QUE SÃO, OS OUTROS COM FOME
PEDINDO
OUTROS
OUTRO
OUTR
OUT
OU, OS (OUTROS)
(AQUILO DA FOME…)
(Desenho de José Pádua e texto de Eduardo Nascimento)
'C'est la vie?'