quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Saindo...

indo
parei pensando

e me peguei falando e vindo
ouvindo cada coisa no ouvido
e sumindo
parei olhando
e indo
e me peguei andando e caindo
e sorrindo cada coisa no sorriso
me peguei domingo
um dormindo preguiçoso e lindo
e me peguei saindo
e me achei cantando
e me perdi zunindo
de tão zonzo o zumbido
um ronco morno
não findo
um mimo
um novo
um fino
um hino
e a rima suave no ouvido
insinuando tudo que havia visto
e o visgo verde e fino
azulejando aquilo tudo que eu havia dito
nesse som somado e limpo
de não se fazer entender um pino
some e fica à toa língua boa de se fazer casar o tino
corre e fica boa língua à toa de se fazer falar dormindo

"antes do sono não há palavra que não faça sentido"

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Conta

Tantas coisas

as que eu quero fazer
as que eu tenho que
e as que eu queria não precisar

as coisas que eu quero contar
as que eu preciso contar
e as que eu queria não ter que

"escuta essa vai, é pequena é um haicai"

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pensando...

Nunca acampei, mas pesquei uma vez.
Digo, sentei lá esperando o peixe.
Acho que naquele dia só eu estava disposto.Os peixes não estavam muito não.
Não que eu possa culpá-los.Não imagino muita diversão em ficar pendurado pela boca.
É como arriscar tudo para comer alguma coisa que está lá dando sopa.
Não é como se a gente nunca tivesse tido a experiência, mas também nao é como se a gente entendesse a perspectiva do peixe.
Enfim, eu estava pra pesca; o rio até estava pra peixe; mas os peixes não estavam pra anzóis naquele dia.
O meu pai pegou um; devia ser mais ou menos do tamanho do meu polegar.
Não lembro se ele mordeu a isca ou enroscou nela. Deu dó.
Jogamos de volta na água, ninguém foi pra lá esperando comer peixe mesmo.
Diversão pra mim foi quando meu primo enfiou a mão numa casa de marimbondo por descuido.
Não é que eu seja de má natureza, mas ele gritou feito menininha. Quis até pular na água - coisa de cinema - mas o rio não estava para amigos.
Deve ter doído.

Meu teclado não tem acento. Pensei nisso agora porque doído sem acento vira doido, que é completamente diferente.
Só tem letra acentuada, mas não todas.
Os franceses nunca foram dos mais espertos mesmo e estavam sempre se ferrando na mão dos ingleses, que por sinal têm um teclado muito mais eficiente, dá pra combinar acento e letra formando qualquer vogal acentuada. Aqui eu tenho que mudar o layout do teclado, ignorar as teclas que vejo e digitar de memória.
Em português o acento é prosódico enquanto no francês é somente fonético. Quer dizer que pra nós o acento indica a tônica, pra eles muda o som da letra, mas a tônica vai ser sempre a última sílaba.
Acaba sendo uma língua chata de ouvir, bem linear, sem criatividade.
Deve ser daí a razão de um teclado idiota no qual o SHIFT dá acesso aos números, ponto final e interrogação. Ineficiente.

A propósito nunca curti água tônica; é amarga.Se fosse boa peixe nadaria nela.
E como é ruim, talvez até pulassem no meu anzol.
Também nunca gostei de pescaria, mas tive um pega-peixe.

Sou do tipo urbano, se estou com fome vou no mercado.
Puta que pariu, a neve está ferrando com a comida. O mercado está vazio.
Café da manhã, almoço e janta do final de semana tem sido suco de laranja e pain au chocolat.

Doido mesmo é esse negócio de acampar pra ficar perto da natureza e levar um pacote de batatinhas Ruffles (a batata da onda). Não existe Ruffles por aqui; as marcas são diferentes.

Bom com batata é a tartiflette, uma receita francesa que lembra a batata recheada.
Isso não tem nada a ver com teclado e acampamento.
Também não vai peixe na receita ou água tônica. Mas eu tentei comprar batata no mercado.

"eu queria estar na festa pá com a sua gente e colher pessoalmente uma flor do seu jardim"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Para Ela

Para uma Stevanato

Ela não me tira as palavras da boca, porque honestamente não me ocorreria pensá-las.
Com uma quase brutalidade, ela me tira as palavras da alma.
As palavras dela são o achado de tudo aquilo que se escondeu.
Ela não pede licensa no reino dessas letras esguias.
Chuta, abre de sopetão, entra sem pedir, escolhe o que quer e sai batendo a porta.
Não é arrogância não.
É só a pureza, é o puro fato de já ter virado parte das palavras.
Ela não fala mais com a língua, fala de dentro dela.
Ela não procura as palavras, estas é que se atiram por ela que de vez em quando cede.
E concede aos meus confusos pensamentos um momento de repouso, de entendimento.
E todas as palavras em que penso param, somem, fogem da cabeça.
Mas não por falta de espaço, apenas por respeito em presença das que foram aceitas.
E este imenso espaço que fica é um dos melhores prazeres da noite.

"com uma quase brutalidade ela me atira as palavras na alma"