quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Acerto

Não vem fingir que tu se perdeu nas contas.
Nem dizer que tu não sabe a soma do peso dos teus sumiços.
Tô sabendo muito bem que enquanto eu tava na rua pro sustento dos teus filhos, tu te enrolava nas calcinhas da vizinha.
Te lambusava naquela baba toda e vinha deitar do meu lado cheirando a galinha.
Eu não falava nada, não jogava nada. Nem nada em cima de tu, nem tu pra fora da cama.
Mas eu morria de nojo.
Nojo dessa tua barba velha e fedorenta.
Desse teu buraco preto no queixo.
Se não bastasse o nojo, a raiva de achar um cabelo comprido e desbotado preso nos pelos do teu peito.
Depois acordava no furor, todo animado, todo feliz, todo pra cima.
Mas não finge que a juventude toda era pra mim que eu sei que não era.
Eu sei que tu só ficava assim quando sonhava no meio das pernas da vagabunda.
Não vem fingir que as contas não batem.
Nem dizer que tu discorda um fio que seja.
Que fio de cabelo comprido e desbotado, era nos pelos do teu peito que eu achava.
Tu dava de malandro enquanto eu ralava o suor do meu corpo.
Agora fica aí, cara de froxo, pica mole.
E pára de babar que eu não boto o dedo nesse queixo encardido.
Achou que o marido era besta, besta é tu.
Nem me viu armar tua coça.
Contar pro marido daquela azeda foi só o começo desse acerto.
E bota aí na tua conta que te deixar no teu estado me custou abrir as pernas pro marido da vagabunda.
Mas não te preocupa não que eu ainda abro as tuas.
Agora te vira que eu tô indo pro enterro da vadia.

"e qualquer desatenção pode ser a gota d'água"

terça-feira, 12 de julho de 2011

Antes de perder a briga

Não gosto de sono que bate na gente,
desses que bate muito,
bem assim, mais na força que no peso.

Sabe quando o sono não relaxa a gente?! Lá vem hoje!

"tem sempre um samba triste meu bem"

Di-fere

A gente pensa que é uma coisa,
daí é outra.
A gente acha que está num lugar,
mas tá no outro.
Tem hora que até parece que está ali pertinho,
mas vai pra longe numa piscada.
A gente acha que é importante,
depois fica na dúvida.
Às vezes parece que nada mais importa,
depois nem importa mais.
Tem hora que é quase tudo,
tem hora que nem um pouco.
Um dia, dois, uma semana.
Hoje foi novo,
pela primeira vez o vazio completo.
A gente pensa que faz diferença,
aí dá impressão de que nem é tanta.

"ela falou que ia embora e eu ignorei: 'ignora nada sua besta, vem aqui e me aperta logo enquanto pode'"

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ainda não

Tem hora e pouco,
tem hora e meia,
em meia hora,
agora há pouco.
Todas as horas às vezes é pouco.
Não falta nada, mas falta um tanto,
só que não falta agora,
vai faltar.

"tem hora e pouco, tem hora e meia, tem hora que nunca chega, tem hora que vai chegar"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Dá nada

Eu ando.
Andava também Luzia.
Éramos uma trabalheira danada.
Quando eu não dava de sumir, dava Luzia de aparecer de repente.
Mulher danada que ela é. Se me pegava depois de um dia pesado perigava passar vergonha.
Com ela não tem uma ou duas. É duas ou três, às vezes quatro, e eu que não me cuide!
Eu gosto! Sempre gostei. Desde os tempo da caverna na Augusta... uma daquelas, tem tantas.
Eu ando meio agora.
Ela também tá só metade.
Eu meio dado, Luzia bem danada.
Dá nada ultimamente e eu ando nada com isso.
Mas ela muda. E muda colhe uma muda de silêncio de bem dentro dos meus modos
Só pra plantar no jeito dela e fazer mudar com ela. 
Mudo também, assim em silêncio, como quem tá pensando no que era.
Passa Luzia, passa aqui, ali e passa logo do meu pensamento.
Coisa boa que me deixava cheio de marca.
Mas marca num demarca não. Fica no tempo só pra contar história mesmo.
Ela andou eu também.
Vai Luzia,
traz pra mim aquele copo de malícia.

"e a gente se casa na beira Luluza, na beira do mar"

terça-feira, 29 de março de 2011

Saudade do Acaso

Fui ao teatro hoje e me deu saudade do Acaso =)


Acaso

  Não é o caso de sair gritando
  Não é o momento, nem há necessidade alguma
  passou da hora, 
  nem é a vez
  é só o acaso
  que uniu aqui os olhos da beleza
  com os olhos da espera

Por Acaso

  Havia um lugar onde as coisas se mostravam
  não era mais perto de mim do que de qualquer outra pessoa
  era também um lugar no centro de todas as vidas que ali foram criadas
  era um lugar onde o imaginário acontecia
  em que tudo se modificava se encontrava e se perdia
  e embora mais do que esperado fosse
  decidiu-se por chamar Acaso.

Ao Acaso

  O palco, por acaso, não estava ali na frente parado, 

  estava por toda a parte e se movia com a platéia.
  Esta sobre o palco, dentro da cena, alagada da nossa sensibilidade,
  exibia sorrisos, olhos apertados e toda sorte de caras que se possa imaginar.
  Nós - os atores - não por acaso éramos justamente alegria
  e, por isso, éramos não menos do que explosão de risos e lágrimas.


Terceiro


Teve o primeiro               teve o segundo.
Foram 30                        fomos 4,
                        só três.
Três anos,                      três curtos,                        mais um pouco.

Veio o terceiro,
 um mais velho,
  um usado,
   este é bem novo.

  Esperado,
 i-nesperado,
in-culto.

Malandro,
repassa no bar,
o que é da cama
o que é da mesa.
As várias lágrimas,
as despedidas
as bolhas
os tapas
o verdadeiro
o insano.

Constrói,
reinventa,
desinventa,
descuido,
não forma,
o conteúdo,
falta
nas janelas nas pernas à luz das coxas
o murro, o suspiro e o sopro na boca
e arranca de novo o arregalo dos olhos.
O gemido     o resumo da beleza à espera dos olhos,
o impulso     um insulto,
acasO.
"foi assim, quando vimos era maior do que nós todos"

segunda-feira, 28 de março de 2011

Muda

Com um sorriso quase novo, escreveu com a naturalidade de quem fala:
"Muda, muda o que escrevo. No jeito que eu escrevo, muda as coisas de que falo. Muda a minha fala, também muda as coisas que eu vejo e vejo tudo assim de pouquinho tomando um novo jeito. E muda o gosto. E vai mudando as coisas que me deixam mudo e que me tiram o fôlego"

"Havia algo no ar, como uma pedra de gás,
gota, bolha e sinal, havia algo e há"

sexta-feira, 25 de março de 2011

Água

Toda água em mim apela, é sensação que de hora em hora revela tudo que em mim revira.

"como fosse água, vem pra mudar tudo"

terça-feira, 22 de março de 2011

Atrevimento

Ah
se eu tivesse coragem
pra ousar
a audácia
de gostar
mas não
não faz parte do plano

"tudo é ousado para quem a nada se atreve"
(de um certo Pessoa)

terça-feira, 15 de março de 2011

O que revira




Ah de todas essas coisas...
de todos esse obstáculos, de todo o sucesso, de toda essa merda
o que me revira é o que vira a cama
e deixa a roupa do avesso
e vira as coisas no chão
e arremessa da cama
e fica por cima
é o que revira as pernas
e os olhos
e tudo se mexe mais rápido
e tudo se aperta
e se avermelha
se morde
e esquenta
e se contrai mais forte
no momento exato anterior em que se espalha
e naquele gozo se afunda
a cara e o corpo colados em todos os pontos
sem meias palavras
sem meio sexo
é assim claro e completo
é isso que me revira

"Tem dias que a metáfora é sem sal, nesses dias sinestesia"

terça-feira, 1 de março de 2011

De dentro da língua

Hoje vim pra apontar: Cinto (de uma Stevanato)


"Toda água em mim apela, é sensação que de hora em hora vela tudo que em mim revira."

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um e outro

Um dizia umas coisas que não faziam sentido.
Outro fazia umas coisas que não se pode contar.
Entre outro e um, pouco se notava semelhança.
Tanta diferença em tão pequeno espaço, nunca antes fez tanto sentido.
Se reclamava, se despia. Se aceitava, se vestia.
Um se de condição, outro relexivo.
Foi assim e são todos os dias.
Um continua, outro pára.
Um do outro.
Outro do mundo.
Um do mundo.
Outro do outro.
Juntos.

"na minha terra Bahia entre o mar e a poesia tem um porto salvador"

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Encanta

Faz muito que não vejo aquele nego.
Tem algumas primaveras.
Umas mais floridas, outras menos.

Já fazia tempo eu não via aquela preta.
Tem mesmo já umas várias fodas.
Umas meio mornas, outras mais viradas no bixo.

Última vez que vi estava terminando o supletivo.
Cabeceava o trajeto todo no trem da Lapa à Barra Funda.

Da vez que vi, tava de saia!
No balanço do trem parecia que abanava o rabo pra mim.

Hoje passou por mim, nem notou.
Do que eu costumava olhar não sobrou nada.
Primaveras pesadas meu preto!

Nem me viu e eu quase que buli.
Preta boa de tudo.
Se me olha, casava, ficava até fiel!

"trocando em miúdos pode guardar"