quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Acerto

Não vem fingir que tu se perdeu nas contas.
Nem dizer que tu não sabe a soma do peso dos teus sumiços.
Tô sabendo muito bem que enquanto eu tava na rua pro sustento dos teus filhos, tu te enrolava nas calcinhas da vizinha.
Te lambusava naquela baba toda e vinha deitar do meu lado cheirando a galinha.
Eu não falava nada, não jogava nada. Nem nada em cima de tu, nem tu pra fora da cama.
Mas eu morria de nojo.
Nojo dessa tua barba velha e fedorenta.
Desse teu buraco preto no queixo.
Se não bastasse o nojo, a raiva de achar um cabelo comprido e desbotado preso nos pelos do teu peito.
Depois acordava no furor, todo animado, todo feliz, todo pra cima.
Mas não finge que a juventude toda era pra mim que eu sei que não era.
Eu sei que tu só ficava assim quando sonhava no meio das pernas da vagabunda.
Não vem fingir que as contas não batem.
Nem dizer que tu discorda um fio que seja.
Que fio de cabelo comprido e desbotado, era nos pelos do teu peito que eu achava.
Tu dava de malandro enquanto eu ralava o suor do meu corpo.
Agora fica aí, cara de froxo, pica mole.
E pára de babar que eu não boto o dedo nesse queixo encardido.
Achou que o marido era besta, besta é tu.
Nem me viu armar tua coça.
Contar pro marido daquela azeda foi só o começo desse acerto.
E bota aí na tua conta que te deixar no teu estado me custou abrir as pernas pro marido da vagabunda.
Mas não te preocupa não que eu ainda abro as tuas.
Agora te vira que eu tô indo pro enterro da vadia.

"e qualquer desatenção pode ser a gota d'água"

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