quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Manger

Reparei que por aqui não tem cachorro largado na rua, nunca vi um andando sozinho por aí.
Hoje tinha um cara dormindo embaixo do banco da estação de trem.
Uma criança dentro do trem olhou pra mim de cabeça meio baixa, estendeu um copinho com uma etiqueta 'manger' ... envergonhada por pedir, pedindo sem falar, uma única palavra no copinho para executar um pedido à prova de estrangeiros, independente de língua.
Não é como se eu nunca tivesse visto, mas o contraste foi estranho.
No copinho poderia estar escrito 'MERDA', não faz diferença.
Na sala ao lado do meu escritório alguém toma café falando de política, escutei dizer que a França sofre com imigração 'eles continuam vindo para cá trazendo problemas... será que é tão difícil mantê-los fora daqui?', será mesmo que por aqui não se aprende na escola de onde é que veio grande parte da grandeza da Europa?!


NÃO É A FOME QUE MATA
É O TEMPO DA FOME QUE NOS VAI MATANDO
É O SILÊNCIO NA DESCULPA, DOS OUTROS
É A PELE DISTANTE, DOS OUTROS
A OUTRA VIDA QUE NÃO NOS PERTENCE


NÃO É A FOME QUE (NOS) MATA
À DISTÂNCIA DO SOFRIMENTO, DOS OUTROS
SÃO OS OUTROS, AQUELES QUE CARREGAM A FOME
A NECESSIDADE, DOS OUTROS
AQUELES QUE SÃO, OS OUTROS COM FOME
PEDINDO
OUTROS
OUTRO
OUTR
OUT
OU,                          OS (OUTROS)
                                       (AQUILO DA FOME…)
  (Desenho de José Pádua e texto de Eduardo Nascimento)

'C'est la vie?'

domingo, 4 de outubro de 2009

Cachaceiros

Ontém a noite conheci os Cachaceiros, galera daqui de Grenoble cantando e tocando música Brasileira de muita qualidade.





Eles são franceses mesmo, então fui com o pé atrás pensando como seria o vocal... surpresa! Um português bem afinado, limpinho, pouquíssimo sotaque.



No repertório... Chico, Tom, Pixinguinha, Milton, Vinícius, Baden... enfim, só coisa boa. No final do show conversei com o violonista... é possível que role uma parceria, vamos ver no que dá =D

Quem sabe vira música...
"Trouxe o vidro branco, a roupa suja, a cara lavada,
caminhou sobre o piso branco, sapato sujo e calça molhada
Ficou a marca escura, na casa limpa, no tapete seco,
No escuro e de cara branca desaguei toda aquela sujeira,
Não me disse nada, em nada me olhou, por nada desviou o seu caminho
Não lhe quero muito, não lhe quero um pouco, não quero nada
não me deu seus olhos, não me deu um murro, nem me deu a cara
não lhe quero as costas, não lhe quero as sobras, não lhe entrego nada
me trouxe a lama, o mau cheiro e o litro de cachaça,
não lhe quero hoje, não lhe quero agora, nem lhe quero mais
Mas agora dorme, que a noite lava, que a noite acolhe
Dorme que de manhã cedo eu lhe ponho a mesa
O café está pronto
E eu não lhe devo nada, nem a hora de ir embora"

"Eu não lhe devo nada, nem a hora de ir embora"