segunda-feira, 29 de março de 2010

Contorna

E eu que não posso lhe olhar nos olhos.
Por que?
Me avista, me atira
Tira-me a roupa, insiste
Grita rouca
Me escolhe, me acolhe, revista a roupa e revira
O meu trapo, meu prato
Atira o retrato e se vinga
Esvazia meu copo
Se vira na cama
Se retira do ato
E quebra as minhas garrafas
e retorna
me devora
Enrola os lençóis e me molda
Se mostra, se oculta
me contorna e não dá nada

"olha se não é de novo a música velha no ouvido"

Deixa

A gente pensa que é tanto e nem percebe.
A gente aceita que é pouco e nem pensa.
A gente percebe que aceita, mas nem tanto.

A gente procura na gente e acha nos outros.
A gente acha que os outros não olham pra gente.
A gente olha procurando, mas não acha.

A gente tenta, pensa, procura, olha, às vezes acha, às vezes só aceita.
Nem pouco, nem tanto, o tanto certo, o ponto.

E perde o ponto, o tempo, a deixa.

Sentado no palco, a fala esquecida, a cara amarrada.
Mudo, só, antigo. Perdeu a pose e a hora. Vai ter de fazer o novo, vai ter de reinventar a roda.

"a gente faz hora, faz fila, na vila do meio dia"

terça-feira, 9 de março de 2010

R

Se não,
peça.

E se sim,
diga.

Não dispa uma peça
nem me fale do início

o que foi, só é quando se lembra
quando se precisa
e quando é

Pisa, e concisa
começa de novo
mas outro

Como se ironia nunca tivesse sido boa
como se tudo que foi não quisesse ser outra vez
como se não fosse isso tudo um exemplo
um novo
um irônico
um outro

Um ou outro.

Se cair,
tem mão
Se não,
tem também.

Um e outro nos dois.

"éramos célebres e cínicos, éramos sãos"