segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amansa

Aquela uma ali fala comigo como se não tivesse me olhando
ela olha pra mim e pensa como se não tivesse falando
ela pensa em mim e faz como se não quisesse
ela pensa que não, até faz que não, mas tem todo dia
vem no balcão e pede outra como se pudesse
eu pisco olho, faço o troco do Manel
e ela quer outra
a barriga na madeira, a mão no vidro do balcão e bate boca
bate outra, bate uma, desce uma, desce outra
bora a louca botar a culpa em mim
e toma mais
aquela uma tá que tá pra esquecer de alguma coisa
eu finjo que nem sei
que nem lembro
e bora cobrar outra do Manel
daquela uma ali é que não cobro nada
mais nada
nunca mais

"Matilde, a louca mansa, vivia mercando assim: 
Olha a Flor da Noite!"

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sobre viagens e música

Tava tocando
você não estava ouvindo
também não estava falando
vai ver nem estava mais lá
não estava
mas eu cantei
e eu tocava
eu cantei umas três
aquelas duas mais uma outra
aquela que ficou gravada
e as outras que ficaram marcadas
muita coisa né
que coisa

"vai mais ligeiro, ainda tenho que pegar um cinema hoje"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Terceiro


Teve o primeiro               teve o segundo.
Foram 30                        fomos 4,
                        só três.
Três anos,                      três curtos,                        mais um pouco.

Veio o terceiro,
 um mais velho,
  um usado,
   este é bem novo.

  Esperado,
 i-nesperado,
in-culto.

Malandro,
repassa no bar,
o que é da cama
o que é da mesa.
As várias lágrimas,
as despedidas
as bolhas
os tapas
o verdadeiro
o insano.

Constrói,
reinventa,
desinventa,
o descuido,
a não forma,
o conteúdo,
a falta
nas janelas nas pernas à luz das coxas
o murro, o suspiro e o sopro na boca
e arranca de novo o arregalo dos olhos.
O gemido     o resumo da beleza à espera dos olhos,
o impulso     um insulto,
o acasO.


"mais duas entradas, uma inteira, uma meia
são quase oito horas, a sala está cheia
essa sessão das 8 vai ficar lotada"

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cine avenida

Ah essa suavidade,
eu penso no próximo ano, no carnaval
por aqui o Gil tem cantado todo dia


"passei a tarde ensaiando, ensaiando
essa vontade de ser ator acaba me matando"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Quando o restrito todo mundo já conhece

Olha se não são os olhos dela refletindo a luz que vem da janela!
Vem com a flor pendurada pelo braço.
Arrancada não há muito, fica ali perto dos peitos.
Olha se não são os mamilos dela ali na roupa!
Vem com o laço pendurado no pescoço.
Debruçado não há muito, fica ali perto do rosto.
Olha ali bem no meio das pernas dessa preta!
Se não são aquelas as rodelas do joelho!
Fica logo ali a uns dois palmos do vinco na calça da boceta.


"já dizia o poeta, elas arrancam tudo, mas têm"

sábado, 9 de outubro de 2010

Lia e relia

Lia pensa nas coisas com pressa
faz tudo assim afoita
fala mal, mas fala muito
melhor Lia sorrindo
tem muita gente que concorda

Faz horas Lia encostada na janela

As olheiras de Lia têm feito hora extra
muita gente não se opõe
Lia faz fila toda sexta
tem quem valorize seu trabalho
ela faz
faz assim em poucas horas muita gente
assim já há algum tempo
já são uns muitos, natural que fossem
às meninas quase todas rejeita
não menos que esperado

"olha essa princesa, ela deve ter um dente mãe"

Inacidente

A vontade original era de deixar aqui umas frases minhas, inacidentalmente,
as suas não deixaram.

"
Alimento para cabeça vazia
Caneta nervosa
Apoio de ânsia cínica
Frases cortadas e soltas
Nasce algo tosco requentado
Que dá vergonha de comer
Vira de lado e olha pra cima
Disfarça e dá ponto final
Com palavra que não rima
" (Medo de escrever muito sobre coisa pouca) de uma Stevanato


"a gente faz hora, faz fila, Lia não sabe o que faz"

sábado, 2 de outubro de 2010

Palhaço

não ri pra si, mas ri em todos.
Retira do que é seu o que é mais nobre e entrega aos outros.
Generoso, dá de tudo e sobra pouco.
Como desempoeirando com a cara, abre mão e renova tudo.
Haja visto que o rosto do palhaço é branco de pó.
Só não se alegra o palhaço, mas se comove, se alimentando do amor pelo fazer feliz.
Segue amando assim de pouquinho e no escuro,
e se despe da felicidade no caminho,
amando verdadeiramente o fazê-lo.

"venha ver aquele preto que você gosta, está cantando na tv"

Aqui

Ela falou pra mim que ía embora. Ignorei.
Ignora nada sua besta, vem aqui e me aperta enquanto pode...

"aumenta o volume, deixa ele cantar a casa toda"

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Virada Cultural

Eu passei por lá =D

Perdidos em Sampa?

     Até parece =D











É só que alguma coisa acontece no coração de qualquer um que passa por essa esquina!

Achamos uns amigos por lá.... bem poucos, nada do tipo caravana...


Gênios! (sem mais)

"Quando já não bastantasse a cachoeira de estranhamentos, tive mais um (by Hilde)"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Foi nada

Foi nada!
Não conseguiu me dar um motivo e eu sabia de todos.
Aquela cara esticada e limpa e eu de mãos sujas.
Volta aqui e eu lhe dou mais uns bons motivos na cara!
Vai sair de novidade que eu fico aqui de mesmice.
Não aprendeu com a gota d'água?
Enfia sua juventude no cu e me esquece.
Eu aprendi!
Aproveita os novos que dos velhos tiro proveito eu.
Das coisas velhas, da casa velha, das roupas velhas, do corpo velho...
Não pensa que vai deixar vazio, que de vazio já bastaram os anos todos.
Eu ocupo a casa e me encho.
Não justificou uma falta e queria outra foda.
Foda-se! A migalha é sua, fica com ela, eu não quero!
Eu não aceito a canalhice, a palha sempre foi sua, vá embora.
Dormia na minha cama, mas só me queria no tapete.
Era com o suor das suas costas que eu limpava o sangue dos meus joelhos.
Tom de arrependimento que nada.
Falei foi bem batendo o pé
Batendo a cara.
Bate aqui na minha cara e vai ver se a gente não esvazia esse tanque.
Te esvazio os bolsos na porrada.
De bilhete já tomei porre, enxaqueca de perfume.
O pano na pedra tirando mancha e o batom comendo as minhas unhas.
É pouca manga e muito pano.
Dá as caras, faz sujeira, ajeita a calça, vira o assunto e sai de farra.
Ainda me pergunta?!
Ah, bate aqui na minha porta e cê vai ver se isso foi nada.

"eu que nunca fui de secar lágrimas"

sábado, 15 de maio de 2010

Uma coisa de cada vez

Ah,
me deu vontade aí eu vim.
Não acontece sempre, nem é toda vez que acontece que eu faço, mas veio e eu vim.
Larga aí isso que você está fazendo e vem pra cá.
Pra cá? Pra cá pra onde, pra cá quando, pra cá pra que?
Pára de fazer pergunta, larga isso que você está pensando e senta aqui.
Pensando no que, sentar aonde, largar do que?
Poxa! Se não queria, se não podia, se não ia dar, podia dizer, era só falar.
Não pode falar de que?
Claro que pode! Esse é o ponto.
Não, não.
Puta que pariu!!!
Eita, que estresse é esse? Vem cá senta aqui do meu lado.
Como?
Pronto. Vamos pro sofá? Ou você veio ficar só olhando?
Ah... me deu vontade, aí eu...
Vem.

"pronto... vamos?"

segunda-feira, 29 de março de 2010

Contorna

E eu que não posso lhe olhar nos olhos.
Por que?
Me avista, me atira
Tira-me a roupa, insiste
Grita rouca
Me escolhe, me acolhe, revista a roupa e revira
O meu trapo, meu prato
Atira o retrato e se vinga
Esvazia meu copo
Se vira na cama
Se retira do ato
E quebra as minhas garrafas
e retorna
me devora
Enrola os lençóis e me molda
Se mostra, se oculta
me contorna e não dá nada

"olha se não é de novo a música velha no ouvido"

Deixa

A gente pensa que é tanto e nem percebe.
A gente aceita que é pouco e nem pensa.
A gente percebe que aceita, mas nem tanto.

A gente procura na gente e acha nos outros.
A gente acha que os outros não olham pra gente.
A gente olha procurando, mas não acha.

A gente tenta, pensa, procura, olha, às vezes acha, às vezes só aceita.
Nem pouco, nem tanto, o tanto certo, o ponto.

E perde o ponto, o tempo, a deixa.

Sentado no palco, a fala esquecida, a cara amarrada.
Mudo, só, antigo. Perdeu a pose e a hora. Vai ter de fazer o novo, vai ter de reinventar a roda.

"a gente faz hora, faz fila, na vila do meio dia"

terça-feira, 9 de março de 2010

R

Se não,
peça.

E se sim,
diga.

Não dispa uma peça
nem me fale do início

o que foi, só é quando se lembra
quando se precisa
e quando é

Pisa, e concisa
começa de novo
mas outro

Como se ironia nunca tivesse sido boa
como se tudo que foi não quisesse ser outra vez
como se não fosse isso tudo um exemplo
um novo
um irônico
um outro

Um ou outro.

Se cair,
tem mão
Se não,
tem também.

Um e outro nos dois.

"éramos célebres e cínicos, éramos sãos"

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Saindo...

indo
parei pensando

e me peguei falando e vindo
ouvindo cada coisa no ouvido
e sumindo
parei olhando
e indo
e me peguei andando e caindo
e sorrindo cada coisa no sorriso
me peguei domingo
um dormindo preguiçoso e lindo
e me peguei saindo
e me achei cantando
e me perdi zunindo
de tão zonzo o zumbido
um ronco morno
não findo
um mimo
um novo
um fino
um hino
e a rima suave no ouvido
insinuando tudo que havia visto
e o visgo verde e fino
azulejando aquilo tudo que eu havia dito
nesse som somado e limpo
de não se fazer entender um pino
some e fica à toa língua boa de se fazer casar o tino
corre e fica boa língua à toa de se fazer falar dormindo

"antes do sono não há palavra que não faça sentido"

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Conta

Tantas coisas

as que eu quero fazer
as que eu tenho que
e as que eu queria não precisar

as coisas que eu quero contar
as que eu preciso contar
e as que eu queria não ter que

"escuta essa vai, é pequena é um haicai"

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pensando...

Nunca acampei, mas pesquei uma vez.
Digo, sentei lá esperando o peixe.
Acho que naquele dia só eu estava disposto.Os peixes não estavam muito não.
Não que eu possa culpá-los.Não imagino muita diversão em ficar pendurado pela boca.
É como arriscar tudo para comer alguma coisa que está lá dando sopa.
Não é como se a gente nunca tivesse tido a experiência, mas também nao é como se a gente entendesse a perspectiva do peixe.
Enfim, eu estava pra pesca; o rio até estava pra peixe; mas os peixes não estavam pra anzóis naquele dia.
O meu pai pegou um; devia ser mais ou menos do tamanho do meu polegar.
Não lembro se ele mordeu a isca ou enroscou nela. Deu dó.
Jogamos de volta na água, ninguém foi pra lá esperando comer peixe mesmo.
Diversão pra mim foi quando meu primo enfiou a mão numa casa de marimbondo por descuido.
Não é que eu seja de má natureza, mas ele gritou feito menininha. Quis até pular na água - coisa de cinema - mas o rio não estava para amigos.
Deve ter doído.

Meu teclado não tem acento. Pensei nisso agora porque doído sem acento vira doido, que é completamente diferente.
Só tem letra acentuada, mas não todas.
Os franceses nunca foram dos mais espertos mesmo e estavam sempre se ferrando na mão dos ingleses, que por sinal têm um teclado muito mais eficiente, dá pra combinar acento e letra formando qualquer vogal acentuada. Aqui eu tenho que mudar o layout do teclado, ignorar as teclas que vejo e digitar de memória.
Em português o acento é prosódico enquanto no francês é somente fonético. Quer dizer que pra nós o acento indica a tônica, pra eles muda o som da letra, mas a tônica vai ser sempre a última sílaba.
Acaba sendo uma língua chata de ouvir, bem linear, sem criatividade.
Deve ser daí a razão de um teclado idiota no qual o SHIFT dá acesso aos números, ponto final e interrogação. Ineficiente.

A propósito nunca curti água tônica; é amarga.Se fosse boa peixe nadaria nela.
E como é ruim, talvez até pulassem no meu anzol.
Também nunca gostei de pescaria, mas tive um pega-peixe.

Sou do tipo urbano, se estou com fome vou no mercado.
Puta que pariu, a neve está ferrando com a comida. O mercado está vazio.
Café da manhã, almoço e janta do final de semana tem sido suco de laranja e pain au chocolat.

Doido mesmo é esse negócio de acampar pra ficar perto da natureza e levar um pacote de batatinhas Ruffles (a batata da onda). Não existe Ruffles por aqui; as marcas são diferentes.

Bom com batata é a tartiflette, uma receita francesa que lembra a batata recheada.
Isso não tem nada a ver com teclado e acampamento.
Também não vai peixe na receita ou água tônica. Mas eu tentei comprar batata no mercado.

"eu queria estar na festa pá com a sua gente e colher pessoalmente uma flor do seu jardim"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Para Ela

Para uma Stevanato

Ela não me tira as palavras da boca, porque honestamente não me ocorreria pensá-las.
Com uma quase brutalidade, ela me tira as palavras da alma.
As palavras dela são o achado de tudo aquilo que se escondeu.
Ela não pede licensa no reino dessas letras esguias.
Chuta, abre de sopetão, entra sem pedir, escolhe o que quer e sai batendo a porta.
Não é arrogância não.
É só a pureza, é o puro fato de já ter virado parte das palavras.
Ela não fala mais com a língua, fala de dentro dela.
Ela não procura as palavras, estas é que se atiram por ela que de vez em quando cede.
E concede aos meus confusos pensamentos um momento de repouso, de entendimento.
E todas as palavras em que penso param, somem, fogem da cabeça.
Mas não por falta de espaço, apenas por respeito em presença das que foram aceitas.
E este imenso espaço que fica é um dos melhores prazeres da noite.

"com uma quase brutalidade ela me atira as palavras na alma"